Cresce um vento na estrada
em dia de trânsito
que vai convencendo em brisa um olhar 
trocando direcção por escala mínima 


deitamo-nos com esse vento fino devagar
lembrando as árvores e a vergonha da cadência exata 
com que as fizeram nascer
adormecemos em ramos lentos 
abandonando o galope das grandes carruagens
(e talvez sejam só dois
tu e a morte na carruagem 
que a eternidade não se prende com detalhes tão pequenos
ou períodos de dor revisitados)

acenar ao trânsito do grande galope
é tão válido como a rota não parar 
depois de flores terem sido excessivamente abertas  

um pedaço de natureza milenar 
cresce-nos à solta no cérebro
sem cavalo, a soma do convite ao universo 
e do silêncio na resposta

ou em cio de luz 
um olhar de rapina teu e 
e de todos os bichos em simultâneo a uma estrela
até que ela se desvie 





O teu rosto torna-se periódico às vezes
e persiste 
em oráculo 
a querer saber do meu
e dessa certa quantidade de gente à procura de gente:


É um enlace nos olhos dos bichos
uma energia claríssima
um fogo em artificio de espelhos 
com tendência para rios 

a cobrir devagar,
atrás de cada passo
acordando cada mão que se espreguice ao sol
transparente a cada mão, tão liquida 
(como a música 
mas menos horizontal)
e no entanto move-se 
como se ainda na sombra de uma luz que nos amedronta

e vai levando gente 
para a clareira mais provável
ao nível das nuvens dos átomos 
quando ainda se tocavam

alinha olhares inteiros de bicho
na inclinação certa de se imitarem 

é uma energia claríssima que depois se vem a saber