I
ouvem-se menos as esquinas lá fora
os touros andam distraídos
em redondos dentro de redondos
galerias de pedra de redondos
(só um infinito podia deixar acabar-se assim em redondo)
de cornos sensíveis
a uma certa inclinação de sangue
alguns dançam e rodopiam pescoços
(a mais bela transição)
lançam corpos moles em hélice pelo ar
sabem que os reflexos nunca obedeceram
(a pedra redonda sempre foi um bom espelho
e um touro não pode ser deus)
fica sempre um gesto letra-borboleta
naquela pá-limpa-cesto pouco limpa de mãos
um dedo mindinho girado aleatoriamente
e escrevem-se infinitos de mãos dadas
II
ouvem-se menos as esquinas lá fora
touros sérios sentados em cadeiras olham-se de frente
sentem como certa a inclinação
o binário das esquinas das estrelas dos cabelos das caras moles
do encontro forçado das paredes
quando dois
catorze (infinitas) portas
abrem e piscam em fibra óptica
o céu é um emaranhado de fios de néon azul
(cada um a puxar a saia azul de uma princesa)
e os touros começam a desenhar danças inclinadas
(antigos avisos)
na pedra redonda
há sempre touros calmos a rir
de cornos azuis
a adormecer informação nos terraços
em relvas mornas de vulcões
III
ouvem-se menos as esquinas lá fora
(e se existem cornos e esquinas)
a informação queima as asas
só tambores debaixo de água
cheira a mar
e é impossível voar acima das fibras ópticas azuis
sem puxar à velocidade da luz
as saias de todas as princesas
em roda tribal (que nunca se soube escrever)
de sentido contrário à inclinação
pendurados por milhares de fibras
às grandes asas mecânicas
há touros centrífugos a acelerar
e mais alto que o ritmo das esquinas
ouve-se no seu canto:
a casa é um labirinto com uma certa inclinação para o mar