caras calmas cheias de olhos que pairam lá em cima e brincam como o urubu. há um mapa no quadro da aula que falha como falha o ar condicionado e as caras são lentamente enfiadas em sacos enquanto rezam o sentimento de um ocidental.
a cidade não é a minha de rio assustado com as luzes da noite ou passeio das virtudes de gaivotas amestradas sem mãe. é uma cidade de cara tapada e pele de seringueira largada na esquina de um teatro triste de renda amarelada. dentro dela há arcas fundas azuis onde gelam peixes gigantes embalsamados com caras. ouvem-se os passos da mãe ao longe e o ar é quente de bicho a arfar e ninguém olha porque ali acaba a estrada.
e então a mãe vem lamber a cidade em rio mais largo que todas as línguas
antigamente havia apenas dois milhões de caras e quatro de olhos fechados, diziam as raízes. papel frio ou caras e os contos dos olhos demasiado quentes para encadernar. e dizem agora que o urubu brinca comigo e que há comida que só liberta o veneno ao sétimo dia para descansar. e eu descansei.
Manaos, 2010
No comments:
Post a Comment