de substâncias amedrontadas
seguem-se de pequenos
não de sustentarem agudos das gaivotas
a chamar a sombra dos chapéus antigos
às mesmas paredes
mais o quê
não há mais água
a água lembra-se de toda a água que já foi
até voltar a ser-nos
(ouvi o mar ter conversas estranhas com a água dentro de mim
à janela redonda do décimo andar de um navio)
estou envolvida com outra coisa
se é um bicho sozinho no universo
no instante de uma cereja
a imaginar
para passar de me cair
(nem vazios que saibam coser)
caio-me mais do que me quero
onde só precisávamos de ver o chão
muito antes do tempo de dois pés
só uma onda que ri
só uma onda aos ritmos
podia ser água
e a certeza com que se espalha,
o resto
(palavras em poços
a reflectir
circunferências na superfície)
o resto
tende a magoar
quando rodas sobre ti
a velocidade não serve de nada
o vento é só teu
os extremos a tua curvatura
e o sopro do poço vem devagar
deixar duas dimensões à solta de não saber
não deslizar pelas lâminas circulares
entre uma e outra ir saltando
sem violino
ao ritmo de ecos
se o cérebro é maior que o mundo
que o segundo não caiba no primeiro
não se cria energia quando tremo
pela rotação de uma palavra
rir contigo
nos teus modos de ondulação
montar um touro azul e entrar pelo poço ao vento
que não se afaste assim a matéria com medo do escuro
(às vezes despeço-me dos bichos
com um dedo que não é mão)
quero dar um beijo a um átomo
sei que se amam quando se rodeiam
deitar-me com um planeta
contra todos os contractos
que me trouxeram a esta escala sem lugar
também tenho medo do escuro
por mim seguia na água
até ao lugar comum
esse espaço inocente
que se abre entre as sobrancelhas dos bichos
onde se come a energia exacta para comer
a boca não sabe a época
mas ouvimos o fundo dos poços
há uma exacta inclinação das variáveis
para lhes espreitar
e ela ri-se com
a rotação de todos os polegares
na inclinação exacta de nos amar
fibra óptica de Ícaro
I
ouvem-se menos as esquinas lá fora
os touros andam distraídos
em redondos dentro de redondos
galerias de pedra de redondos
(só um infinito podia deixar acabar-se assim em redondo)
de cornos sensíveis
a uma certa inclinação de sangue
alguns dançam e rodopiam pescoços
(a mais bela transição)
lançam corpos moles em hélice pelo ar
sabem que os reflexos nunca obedeceram
(a pedra redonda sempre foi um bom espelho
e um touro não pode ser deus)
fica sempre um gesto letra-borboleta
naquela pá-limpa-cesto pouco limpa de mãos
um dedo mindinho girado aleatoriamente
e escrevem-se infinitos de mãos dadas
II
ouvem-se menos as esquinas lá fora
touros sérios sentados em cadeiras olham-se de frente
sentem como certa a inclinação
o binário das esquinas das estrelas dos cabelos das caras moles
do encontro forçado das paredes
quando dois
catorze (infinitas) portas
abrem e piscam em fibra óptica
o céu é um emaranhado de fios de néon azul
(cada um a puxar a saia azul de uma princesa)
e os touros começam a desenhar danças inclinadas
(antigos avisos)
na pedra redonda
há sempre touros calmos a rir
de cornos azuis
a adormecer informação nos terraços
em relvas mornas de vulcões
III
ouvem-se menos as esquinas lá fora
(e se existem cornos e esquinas)
a informação queima as asas
só tambores debaixo de água
cheira a mar
e é impossível voar acima das fibras ópticas azuis
sem puxar à velocidade da luz
as saias de todas as princesas
em roda tribal (que nunca se soube escrever)
de sentido contrário à inclinação
pendurados por milhares de fibras
às grandes asas mecânicas
há touros centrífugos a acelerar
e mais alto que o ritmo das esquinas
ouve-se no seu canto:
a casa é um labirinto com uma certa inclinação para o mar