Prevista a inclinação
o som da aterragem
na arte de não voar:
o código
a prolongar o abrir de todos os olhos
enrolado à sua curvatura
sem nunca lhes tocar
(em pauta
antes de se tornar liquida
a música)
repete este encantamento
enquanto os olhos não se lembram
e reinicia
sempre que isso acontece
a cada ciclo repetido
abandonada a humaníssima gente
a uma só escala
entre uma estrela
e o constelar da ideia dela
de infinito na boca
para enfrentar os deuses
a arte de não voar
também a arte de fascínio
(de pavão)
não ansiaríamos uma eternidade vazia
se ela não se pavoneasse tanto à nossa frente:
Retirei então o som ao mundo devagar
coloquei a terra um pouco mais à direita
(em girassol
antes de se querer virar)
no silencio que antecede
movimentos futuros
alguns ciclos cansados
desenrolaram-se ao sol
e o ritmo duplo
em sinal:
dois corações a bater no mesmo corpo
apenas aí
a chamada
sem aviso sem som
a um voo previsto sem mim
Cresce um vento na estrada
em dia de trânsito
em dia de trânsito
que vai convencendo em brisa um olhar
trocando direcção por escala mínima
deitamo-nos com esse vento fino devagar
lembrando as árvores e a vergonha da cadência exata
com que as fizeram nascer
adormecemos em ramos lentos
abandonando o galope das grandes carruagens
(e talvez sejam só dois
tu e a morte na carruagem
que a eternidade não se prende com detalhes tão pequenos
ou períodos de dor revisitados)
acenar ao trânsito do grande galope
é tão válido como a rota não parar
depois de flores terem sido excessivamente abertas
um pedaço de natureza milenar
cresce-nos à solta no cérebro
sem cavalo, a soma do convite ao universo
e do silêncio na resposta
ou em cio de luz
um olhar de rapina teu e
e de todos os bichos em simultâneo a uma estrela
até que ela se desvie
O teu rosto torna-se periódico às vezes
e persiste
em oráculo
a querer saber do meu
e dessa certa quantidade de gente à procura de gente:
É um enlace nos olhos dos bichos
uma energia claríssima
um fogo em artificio de espelhos
com tendência para rios
com tendência para rios
a cobrir devagar,
atrás de cada passo
acordando cada mão que se espreguice ao sol
transparente a cada mão, tão liquida
(como a música
mas menos horizontal)
e no entanto move-se
como se ainda na sombra de uma luz que nos amedronta
e vai levando gente
para a clareira mais provável
ao nível das nuvens dos átomos
quando ainda se tocavam
alinha olhares inteiros de bicho
na inclinação certa de se imitarem
é uma energia claríssima que depois se vem a saber
Subscribe to:
Posts (Atom)